sexta-feira, 22 de abril de 2011

Entrevista com....Dr. Bernardino Silva

Dr. Bernardino Silva
  • Professor do Quadro da Escola Secundária de Amares – Braga (neste momento destacado pelo Ministério da Educação para a ONGD – OIKOS).
  • Coordenador da OIKOS (Cooperação e Desenvolvimento) da Região Norte.
  • Presidente da Comissão Justiça e Paz de Braga.
  • Representa Portugal na Comissão Europeia para os Dias Sociais Europeus. O primeiro encontro foi em Outubro de 2009, na cidade de Gdansk na Polónia.
  • Membro da Comissão Coordenadora Nacional das Semanas Sociais.
  •  Coordenador Nacional da "Operação 10 milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz", da Caritas Portuguesa: anos de 2007, 2008, 2009 e 2010
  •  Coordenador Nacional da Caritas Portuguesa para o Ano Europeu no Combate à Pobreza e Exclusão Social (2010).

  1. A OIKOS é uma ONG com uma longa história. Há quanto tempo faz parte desta ONG e quais foram os motivos que o levaram a juntar-se a esta causa?
       A OIKOS fundada em 1988, em Portugal, é uma associação sem fins lucrativos, reconhecida internacionalmente como Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD / INGO). Desde 1992, detemos o Estatuto de Pessoa Colectiva de Utilidade Pública concedido pelo Estado Português. Em 2000 foi-nos atribuído o Estatuto Consultivo junto do Conselho Económico e Social das Nações Unidas (ECOSOC). Faço parte desta ONGD desde o ano de 2009, assumindo a Coordenação da Região Norte a partir da cidade de Braga, local da Delegação OIKOS. No entanto, como professor procurei sempre junto dos meus alunos mostrar que os conteúdos curriculares pouca importância teriam se cada um deles não interiorizasse as aprendizagens em prole do bem comum. Todas as profissões, todas as responsabilidades deveriam estar baseadas na construção de uma sociedade plena de valores e sentido de humanidade. Infelizmente sabemos que não é assim que as coisas funcionam. O egoísmo impera na humanidade, sobretudo na nossa. Quando temos consciência que nossa sociedade é desigual já deveria ser motivo suficiente para mudarmos de atitude em relação a comportamentos vários. Mas, na generalidade, as pessoas pensam muito em si e só depois nos outros. Ou seja pensam muito pouco na construção do bem comum.
      Daí que, procurei ao longo dos anos, com os meus alunos e comunidade educativa, mostrar caminhos alternativos para um outro mundo possível e foi aqui que dentro de muitas outras organizações e associações me identifiquei com o trabalho da OIKOS e, desde então, acabei por ser mais um cidadão solidário para com a cooperação para o desenvolvimento motivando meus alunos para esta filosofia de acção.

2.         Sendo representante, da delegação da zona Norte, da OIKOS, qual é no seu entender o envolvimento da sociedade nas causas solidárias?

      A população portuguesa, no geral nacional, na hora de ajudar marca sua presença. Vimos isso em muitas e muitas campanhas. Somos uma população generosa. Acredito é que muitas vezes as pessoas se ficam por aí: depositam dinheiro, dão bens alimentares, oferecem coisas, mas depois não tomam consciência plena de que sua ajuda pode passar pelo seu dia a dia em casa, no trabalho, na escola, na rua. Aquilo a que chamamos de uma cidadania de participação. Se todas estas pessoas que habitualmente são generosas no dar o fossem, também, no agir da vida de certeza que, nossa responsabilidade cívica de intervenção seria bem diferente daquele que hoje temos. Fica aqui um grande desafio às novas gerações.

3.                 Partindo para um âmbito mais pessoal, o que é para si ser voluntário?

         O ser voluntário, para mim, é algo que advém da experiência que vamos adquirindo ao longo da vida. Podemos ser voluntários a vários níveis e em qualquer idade. Mas com o atingir de objectivos pessoais é que começamos a traçar nosso itinerário de vida e tomarmos opções de acordo com o nosso sentir. Por isso, ser voluntário exige compromisso e responsabilidade para com o projecto que queremos apoiar e desenvolver. Este pode ser local, nacional ou internacional. O importante é a tomada de consciência do quanto podemos oferecer e o quanto de tempo temos para nos comprometer. Se atingirmos estas metas pessoais, atingirmos o colectivo com nosso contributo e sentir-nos-emos muito bem.

4.    Qual foi a experiência que mais o sensibilizou e porquê?

      Várias foram as experiências que vivi ao longo destes anos. Difícil será identificar qual a que mais me sensibilizou pelo facto de que cada uma tem um contexto próprio e, por si só, é única a sensação e a envolvência vividas. Mas posso dizer que as reacções vividas são várias. Na maioria das vezes, independentemente de já termos um conhecimento prévio da realidade que vamos encontrar, nos locais as coisas mudam de figura. Por isso, antes de partir procuro criar em mim um antídoto que me permitirá no local de acção estar mais “frio” em relação ao que vivo. Mas nem sempre é fácil. Aliás, é muito difícil lidar com a fome, a dor e as lágrimas de quem nada tem. São imagens difíceis de legendar. Ficamos muitas vezes impotentes perante tanta miséria humana.

5.    Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio são 8 têm metas definidas para 2015. No entanto muito ainda está por fazer. Quais são na sua opinião, os principais entraves às metas estabelecidas?

       Diria que os principais entraves ao cumprimento das metas definidas para 2015 são as estruturas político-económicas. E cito a constatação que está inserida na Declaração de Accra sobre a Realização dos Objectivos do Milénio para o Desenvolvimento nos Países em Situação de Crise, aprovada por 12 países reunidos nos dias 19 e 20 de Julho de 2010 na capital Ganesa: “Reconhecemos que as crises e as subsequentes perturbações ao crescimento económico (…), e o colapso do estado de direito, da justiça e da segurança constituem uma ameaça enorme, não só em relação aos progressos rumo aos Objectivos do Milénio para o Desenvolvimento, mas também no que diz respeito à conservação e consolidação dos progressos relativos aos OMD alcançados após muito esforço. (…) Temos igualmente consciência de que a persistência das desigualdades e a falta de progressos rumo aos OMD poderão aumentar o risco de ressurgimento de conflitos e violências armadas (…)”.
       Contudo, os participantes na Cimeira de revisão dos OMD, organizada de 20 a 22 de Setembro em Nova Iorque, por iniciativa do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, continuam optimistas quanto ao alcance das metas. “Estamos convencidos de que os Objectivos do Mil-nio podem ser alcançados, incluindo nos países mais pobres, caso todos os Estados membros e todas as partes envolvidas, tanto a nível do país como internacional, se juntem com uma vontade renovada”, lê-se no documento final desta reunião organizada no quadro da 65ª da Assembleia Geral.
        Mas é um sentimento de impotência a que nós que andamos no terreno sentimos e vivemos. Saber que seria tão fácil minimizar a dor da fome, da doença e das desigualdades sociais se todos se unissem em prole de uma sociedade mais justa e equilibrada. Todos sabemos e conhecemos a fragilidade humana. Mas a dos outros. Nunca queremos pensar que um dia podemos ser nós os frágeis deste mundo. Por isso, torna-se difícil fazer chegar a mensagem e, sobretudo, cativar empresas, personalidades e cidadãos para apoiar causas humanitárias. Desconfiam. Infelizmente esta desconfiança assenta na mera concepção de que a pobreza é uma fatalidade. Acreditem que existem localidades hoje no mundo que se tornaram vidas de esperança pelo projecto que foi implementado localmente. Projectos que são menores no seu valor económico de apoio mas são maiores na sustentabilidade local e pessoal. É, neste sentido que o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, reconhece os resultados positivos e sucessos alcançados, fruto de esforços consideráveis feitos pelos países em desenvolvimento para alcançar os OMD, a cimeira notou que o progresso ficou aquém das expectativas. Para mudar este quadro, a Declaração final convida aqueles países a implementarem estratégias nacionais de desenvolvimento e políticas adequadas. E exorta os Estados membros e todas as partes envolvidas a um maior empenho tanto a nível do país como internacional, em particular que os compromissos sejam cumpridos.

6.    Sendo 2011, o Ano Europeu do Voluntariado e estando nós num período de muitas dificuldades, a sociedade irá compreender a verdadeira importância do voluntariado?

      Sem dúvida que sim, porque ser voluntário é empenhar-se em causas de interesse social e comunitário, e assim melhorar o seu empenho pessoal e a qualidade de vida da sociedade. O trabalho de voluntariado é toda a actividade desempenhada no uso e prazer da autonomia do voluntário em prestar serviço ou trabalho, sem qualquer tipo de remuneração ou qualquer tipo de lucro. Existe a bolsa do voluntariado que permite ás instituições e organizações usufruírem de voluntários com qualificações específicas e transformarem as suas necessidades em oportunidades graças ao trabalho destes voluntários. Actualmente existem em todo o mundo várias organizações que se utilizam do trabalho voluntário de milhares de pessoas para melhor resolver problemas da sociedade. O trabalho voluntário, ao contrário do que pode parecer, é exercido de forma séria e muitas vezes necessita de especialização e profissionalismo. Existe crescentemente um reconhecimento alargado, por parte de diversos agentes dos governos à sociedade civil quanto ao papel do voluntariado como sector dinâmico da sociedade, cuja actividade se revela complementar à actuação das instituições públicas. Esta perspectiva quanto ao valor acrescido que o voluntário pode representar na vida das organizações e da comunidade. Termino dizendo que o homem e a mulher ao tornarem-se voluntários, apropriam-se dos princípios que norteiam as Nações Unidas, isto é a Paz e o Desenvolvimento, e por conseguinte os oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.


Muito Obrigado pela sua colaboração Dr. Bernardino Silva

1 comentário:

  1. O meu agradecimento, comovido, ao Senhor Dr. Bernardino Silva, Distintíssimo Professor , pelo Bem que tem feito em tantaos sítios, do mundo. Agradeço, muito especialmente, o Bem que tem feito em Moçambique, Terra onde nasci.
    Deus o abençoe! Maria Irene Bernardo Cardoso

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